6 coisas a saber sobre os antibióticos

Publicado em 29 Outubro 2021
Atualizado em 15 Julho 2024

Sobre este artigo

Publicado em 29 Outubro 2021
Atualizado em 15 Julho 2024

1. Os antibióticos salvam vidas 

Desde a descoberta da penicilina em 1928, o uso generalizado de antibióticos permitiu salvar milhões de vidas. Principal arma na luta contra as infeções bacterianas, os antibióticos ajudaram a ganhar quase 20 anos de esperança de vida conjuntamente com as vacinas.1

2. Os antibióticos destroem as espécies responsáveis pela infeções, mas também bactérias boas

Intestinos, vagina, pulmões, pele... Há várias partes do nosso corpo que abrigam (sidenote: Microrganismos Organismos vivos que são demasiado pequenos para serem vistos a olho nu. Incluem as bactérias, os vírus, os fungos, as arqueias, os protozoários, etc., e são vulgarmente designados "micróbios". What is microbiology? Microbiology Society. ) (bactérias, fungos e vírus). São as chamadas microbiotas2. Os antibióticos, embora erradiquem os germes patogénicos responsáveis pela nossa infeção, podem também destruir determinadas bactérias benéficas no seio da nossa microbiota e causar um desequilíbrio mais ou menos importante nesse ecossistema. É aquilo a que se chama uma (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) 3. Isto aplica-se a todas as microbiotas do corpo: a microbiota intestinal, mas também a microbiota da pele4, a pulmonar5, a ORL6, a urinária7 e a vaginal8.

O papel ambivalente dos antibióticos

Ao destruírem as bactérias responsáveis pelas infeções, também têm impacto na m…

3. Os antibióticos podem causar efeitos secundários 

Ao induzirem a disbiose, os antibióticos podem gerar impactos negativos para a saúde. A principal complicação a curto prazo é a alteração do trânsito intestinal em alguns pacientes. Na maioria das vezes, isto traduz-se em diarreia, estando a microbiota intestinal menos capaz de cumprir as suas funções protetoras. Essa diarreia associada aos antibióticos é geralmente de intensidade leve a moderada e a sua incidência varia de acordo com a idade, o tipo de antibióticos, o contexto, etc.. Pode afetar até 35%9,10,11 dos pacientes, sendo que, nas crianças, essa percentagem pode atingir 80%.9 Em 10 a 20% dos casos, a diarreia resulta de infeção por Clostridioides difficile (C. difficile)11: esta bactéria coloniza a microbiota intestinal e pode tornar-se patogénica sob a influência de determinados fatores (a toma de antibióticos, por exemplo). As consequências clínicas variam, desde diarreias ligeiras a sintomas muito mais graves ou mesmo morte.11 

 

35% Pode afetar até 35% dos pacientes

80% é até 80% nas crianças

4. Os antibióticos podem causar efeitos a longo prazo quando ocorre muito cedo na vida

A diarreia associada aos antibióticos não é a única manifestação de disbiose associada a antibióticos. Esta será também responsável por efeitos a longo prazo quando ocorre muito cedo na vida. Com efeito, o período perinatal, que se caracteriza pelo desenvolvimento da microbiota intestinal e pela maturação do sistema imunitário, constitui uma altura particularmente sensível : a disbiose induzida pela toma de antibióticos nesta fase parece ser um fator de risco de ocorrência de doenças crónicas (obesidade, diabetes, asma, doenças inflamatórias intestinais crónicas).13 

5. A utilização inadequada de antibióticos é responsável pela resistência aos mesmos

A resistência aos antibióticos consiste no facto de um tratamento por antibióticos deixar de ser eficaz contra uma infeção bacteriana1. A que é que isto se deve? Os antibióticos são eficazes apenas face a bactérias e não produzem efeito nos vírus (por exemplo, no da gripe)14. O seu uso inadequado (no caso de uma infeção viral, por exemplo) ou excessivo - tanto no ser humano como em animais - acelera esse fenómeno. A resistência aos antibióticos implica a estadias mais longas nos hospitais, aumento das despesas de saúde e aumento dos óbitos. É por isso que constitui, à escala global, um importante problema de saúde pública1.

 6. Todos os anos, há uma Semana mundial para promover a utilização adequada dos antibióticos 

Todos os anos, de 18 a 24 de novembro, a OMS organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM, que visa aumentar a consciencialização para o fenómeno da resistência aos (sidenote: Antimicrobianos Categorias de medicamentos que reúnem os antibióticos (ação contra as bactérias), os antivirais (contra os vírus), os antiparasitários (contra os parasitas) e os antifúngicos (contra os fungos)   WHO Antimicrobial Resistance; Oct 2020 ) e incentivar o público em geral, os profissionais de saúde e os decisores políticos a adotarem as melhores práticas para combaterem o surgimento e a disseminação das resistências. Na qualidade de especialista em microbiota, o Biocodex Microbiota Institute adere a esta iniciativa.

O que é a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM?

Todos os anos, desde 2015, a OMS organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (WAAW), que tem como objetivo aumentar a sensibilização para a resistência aos antimicrobianos a nível global.

Realizada entre 18 e 24 de novembro, esta campanha incentiva o público em geral, os profissionais de saúde e os decisores a utilizarem cuidadosamente os antimicrobianos, a fim de evitar o surgimento de uma maior resistência aos antimicrobianos. 

Fontes

1. WHO Antimicrobial Resistance; Oct 2020; https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/antimicrobial-resistance 

2. Kho ZY, Lal SK. The Human Gut Microbiome - A Potential Controller of Wellness and Disease. Front Microbiol. 2018 Aug 14;9:1835. 

3. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. 

4. Park SY, Kim HS, Lee SH, et al. Characterization and Analysis of the Skin Microbiota in Acne: Impact of Systemic Antibiotics. J Clin Med. 2020;9(1):168. 

5. Chung KF. Airway microbial dysbiosis in asthmatic patients: A target for prevention and treatment? J Allergy Clin Immunol. 2017;139(4):1071- 1081. 

6. Teo SM, Mok D, Pham K, et al. The infant nasopharyngeal microbiome impacts severity of lower respiratory infection and risk of asthma development. Cell Host Microbe. 2015;17(5):704-715. 

7. Klein RD, Hultgren SJ. Urinary tract infections: microbial pathogenesis, host-pathogen interactions and new treatment strategies. Nat Rev Microbiol. 2020;18(4):211-226. 

8. Shukla A, Sobel JD. Vulvovaginitis Caused by Candida Species Following Antibiotic Exposure. Curr Infect Dis Rep. 2019 Nov 9;21(11):44. 

9. McFarland LV, Ozen M, Dinleyici EC et al. Comparison of pediatric and adult antibiotic-associated diarrhea and Clostridium difficile infections. World J Gastroenterol. 2016;22(11):3078-3104. 

10. Bartlett JG. Clinical practice. Antibiotic-associated diarrhea. N Engl J Med2002;346:334-9.

11. Theriot CM, Young VB. Interactions Between the Gastrointestinal Microbiome and Clostridium difficile.Annu Rev Microbiol. 2015;69:445-461.  

12. Aires J. First 1000 Days of Life: Consequences of Antibiotics on Gut Microbiota. Front Microbiol. 2021 May 19; 

13. Queen J, Zhang J, Sears CL. Oral antibiotic use and chronic disease: long-term health impact beyond antimicrobial resistance and Clostridioides difficile. Gut Microbes. 2020;11(4):1092-1103

14. Centers for Disease Control and Prevention; Patient Education and Promotional Resources https://www.cdc.gov/antibiotic-use/community/pdfs/aaw/au_improving-antibiotics-infographic_8_5x11_508.pdf 

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