Transplante pulmonar: a microbiota pulmonar, um indicador fiável para se prever a rejeição?
Poder prever-se a rejeição do transplante? É o sonho de qualquer cirurgião, e a esperança de qualquer paciente... De acordo com um estudo publicado em The Lancet Respiratory Medicine, um aumento das bactérias pulmonares permitirá prever a rejeição crónica do transplante nos adultos saudáveis que tenham sido sujeitos a transplante pulmonar.
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Sobre este artigo
Único tratamento existente para a fase terminal da doença pulmonar, o transplante do pulmão apresenta taxas de sobrevivência muito baixas em comparação com outros transplantes de órgãos. Observa-se também nestes pacientes uma microbiota respiratória modificada em comparação com a das pessoas saudáveis, denotando aumento da carga bacteriana e comunidades bacterianas alteradas. A relevância clínica destas diferenças da microbiota pulmonar para os resultados pós-transplante pulmonar era, até à data, desconhecida.
Compreender os efeitos da evolução da microbiota pulmonar na sobrevivência pós-transplante
Os investigadores realizaram um estudo prospetivo incidindo sobre 134 pacientes que receberam aloenxertos pulmonares na Universidade de Michigan entre outubro de 2005 e agosto de 2017. Objetivo: avaliar o significado clínico dos efeitos das alterações na microbiota respiratória após um transplante pulmonar em recetores de transplante de pulmão saudáveis na sobrevivência posterior sem disfunção crónica do enxerto pulmonar (CLAD). As análises incidiram sobre amostras de líquido broncoalveolar recolhidas durante broncoscopia realizada em pacientes assintomáticos um ano após o transplante. Posteriormente, a respetiva função pulmonar foi avaliada de 3 em 3 meses por espirometria, para se monitorizar o desenvolvimento de CLAD.
Fator de risco associado ao número de bactérias pulmonares
Ao longo dos 500 dias do acompanhamento, 18% dos pacientes desenvolveram CLAD, 4% faleceram antes de diagnóstico confirmado dessa disfunção e 78% permaneceram sem CLAD. No que respeita à microbiota pulmonar, a existência de um aumento do número de bactérias pulmonares revelou-se associada a um maior risco de desenvolvimento de rejeição crónica e de morte após o transplante de pulmão. Outra constatação: esta associação entre o aumento da carga de ADN bacteriano e o risco de desenvolvimento de CLAD não será atribuível à presença nem à abundância relativa de Pseudomonas spp, como poderiam sugerir alguns estudos anteriores.
A sobrevivência prevista pela composição das comunidades bacterianas?
Conclui-se também, a partir deste estudo, que a composição da comunidade bacteriana pulmonar é significativamente diferente nos pacientes que sobreviveram e permaneceram livres de CLAD, em comparação com aqueles que desenvolveram CLAD ou morreram. No entanto, não foi observada qualquer associação definitiva entre os táxons bacterianos individuais e as causas de óbito ou o aparecimento de CLAD. No momento de estabelecerem um balanço preliminar, os investigadores concluíram que a composição poderá ser de importância secundária em relação às diferenças da carga bacteriana total, no que respeita à previsão da sobrevida sem CLAD. No entanto, são necessários mais estudos para se confirmar, em primeiro lugar, se as bactérias pulmonares são modificáveis através de antibióticos ou de outras intervenções, e em segundo lugar, se as alterações na microbiota pulmonar podem explicar a variabilidade das respostas dos pacientes às terapias após o transplante pulmonar.