Prever o risco de prematuridade através da microbiota vaginal?
Durante a gravidez, a estrutura genética da população bacteriana da microbiota vaginal parece seguir uma trajetória específica, podendo a gestação resultar em prematuridade. A Gardnerella spp. pode ser um sinal.
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Sobre este artigo
Complicações respiratórias, gastrointestinais e do neurodesenvolvimento: a
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Prematuridade
nascimento antes das 37 semanas de gravidez. Existem subcategorias de prematuridade, em função da idade gestacional:
- Extremos prematuros (menos de 28 semanas);
- Grandes prematuros (entre a 28.ª e a 32.ª semana);
- Prematuros intermédios e tardios (entre a 32.ª e a 37.ª semana).
Fonte: OMS
)
é a principal causa de morbilidade e mortalidade neonatal. A microbiota vaginal parece estar envolvida, mas os mecanismos subjacentes permanecem pouco esclarecidos. Contudo, esta flora pode evoluir rapidamente durante a gestação, devido à pressão das alterações hormonais, infeções genitais, antibióticos... Uma equipa de investigadores e de médicos dos estados de Nova Iorque e da Virgínia acompanharam, ao longo de toda a gravidez, a evolução do genoma da microbiota vaginal de 175 americanas (40 tiveram um parto prematuro espontâneo, 135 deram à luz no fim do tempo).
27% Apenas 27% das mulheres pesquisadas afirmam saber que a microbiota vaginal está equilibrada quando a sua diversidade bacteriana é baixa
Uma diversidade genética mais elevada
O estudo demonstra que os 2 tipos de gravidez se distinguem em termos da composição da microbiota vaginal: determinadas espécies bacterianas do género Lactobacillus como a L. helveticus, L. crispatus,, L. gasseri ou L. jensenii são associadas a gravidezes que chegam ao fim do tempo, enquanto as bactérias Megasphaera genomosp., Gardnerella spp. et Atopobium vaginae são associadas à prematuridade.
Outra conclusão: a diversidade genética da microbiota vaginal é mais elevada durante a primeira metade das gravidezes que terminam prematuramente, devido à espécie Gardnerella. Mais precisamente, a
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Diversidade nucleotídica
número da diferença de nucleótidos para uma determinada sequência de 2 indivíduos (aqui 2 bactérias) selecionados aleatoriamente na população.
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da Gardnerella spp. é mais elevada no início das gravidezes que terminam prematuramente, alcançando um pico na 13.a semana de gestação, e voltando depois ao seu valor inicial na 20.ª semana de gestação, enquanto que no caso de gravidezes que chegam ao fim do tempo, os seus valores mantêm-se estáveis. Desta forma, a diversidade genética da Gardnerella spp. durante a primeira metade da gravidez vai afetar o resultado da mesma e poderá, talvez, ser utilizada como biomarcador no diagnóstico precoce da prematuridade.
3,4 milhões de bebés nascidos prematuramente (antes das 37 semanas de gestação) em 2020.
900 000 óbitos relacionados com a prematuridade em 2019, principal causa de mortalidade em crianças com menos de cinco anos.
4% a 16% de nascimentos prematuros consoante o país, em 2020.
Uma evolução adaptativa da Gardnerella
Mas como explicar este pico de diversidade nucleotídica da Gardnerella? Comparativamente às outras bactérias, a Gardnerella demonstra uma taxa de crescimento 1,5 vezes mais elevada no início da gravidez,
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Recombinação genética
troca de informações genéticas (fragmento de ADN ou de ARN com determinados vírus) que permite a criação de novas combinações genéticas e, consequentemente, de novos genomas, garantindo uma mistura genética e a manutenção de uma diversidade que permite a adaptação a uma eventual alteração do ambiente.
)
mais frequentes e uma maior seleção de mutações que trazem benefícios a esta bactéria (e uma taxa de eliminação mais elevada das mutações nocivas).
Estarão envolvidos antibióticos e outros xenobióticos. Com efeito, o património genético mais diversificado da G. swidsinskii parece corresponder a uma adaptação aos medicamentos,
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maior presença dos genes resistentes aos antibióticos transmitidos pelos bacteriófagos.
)
Da microbiota vaginal ao hospedeiro
Assim, as variação genómica das bactérias vaginais irá afetar os fenótipos do hospedeiro (afetando o resultado da gravidez). No entanto, os autores não excluem outra explicação, mesmo que julguem ser pouco provável: as associações entre a diversidade genética microbiana e os resultados da gravidez podem igualmente ser uma consequência de fatores interferentes (medicamentos, compostos químicos...) não contabilizados e que influenciam as duas variáveis.