Associação entre metabolitos séricos e microbiota intestinal: para um melhor diagnóstico do cancro colorretal?
De acordo com um novo estudo publicado em Gut, poderá ser usada uma assinatura que associe o perfil dos metabolitos séricos à microbiota intestinal como novo instrumento para o diagnóstico precoce, fiável e não invasivo dos adenomas e cancros colorretais.
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Sobre este artigo
Os desequilíbrios da microbiota, ou disbioses poderão estar associados a várias patologias, como a diabetes, a obesidade, as doenças neuropsiquiátricas ou neurodegenerativas, ou mesmo alguns cancros. Os metabolitos produzidos pelas bactérias intestinais penetram precocemente na corrente sanguínea. Neste contexto, um novo estudo propôs-se determinar o perfil dos metabolitos séricos ligados à microbiota intestinal (MI). Objetivo? Descobrir se existe uma assinatura metabolómica sérica associada à MI nas pessoas com cancro ou adenoma colorretal. Este método de deteção não invasivo, rápido e preciso permitiria o diagnóstico precoce dos adenomas e do cancro colorretal (CCR).
Variações metabolómicas em todos os estágios
A análise de amostras de soro de uma coorte de investigação (31 indivíduos saudáveis, 12 pacientes com adenoma e 49 com CCR) permitiu a identificação de 885 metabolitos séricos cuja quantidade diferia nos pacientes com adenoma ou CCR em comparação com os controlos saudáveis.
As alterações na MI podem reprogramar o metaboloma fecal nos pacientes com anomalias colorretais, mas poderão fazê-lo ao nível sérico? Para se determinar a potencial contribuição desses marcadores para a previsão de anomalias colorretais, foi realizada uma análise metagenómica fecal da MI e dos metabolitos séricos em 11 indivíduos saudáveis e em 33 pacientes com patologia colorretal. Desta forma, foram identificados 322 metabolitos como estando associados à MI, incluindo espécies que se sabe estarem relacionadas ao início e à evolução do CRC (Fusobacterium nucleatum, Parvimonas micra, etc.). Recorreu-se depois a algoritmo que permitiu identificar com precisão 8 metabolitos séricos capazes de distinguir nesta coorte os indivíduos saudáveis dos portadores de adenoma e CCR (área sob a curva de 0,96). Estes foram selecionados como painel preditivo de patologia colorretal: GMSM (Gut Microbiome-associated Serum Metabolites, ou metabolitos séricos associados à microbiota intestinal).
Em direção a um modelo preditivo?
Este modelo foi testado numa coorte de modelização (72 indivíduos saudáveis e 120 pacientes com patologia colorretal) e numa coorte de validação independente (53 indivíduos saudáveis e 103 pacientes colorretais anormais) e permite distinguir de forma fiável os pacientes com adenoma e CRC dos saudáveis (área sob a curva de 0,98 e 0,92, respetivamente). Por fim, o modelo foi comparado com outros meios de deteção vulgarmente usados: o antígeno carcinoembrionário (CEA) e o teste imunoquímico fecal (FIT). Enquanto o teste ACE distingue os pacientes dos indivíduos saudáveis na coorte de validação com uma área sob a curva de apenas 0,72, o teste imunoquímico fecal parece também ser inferior ao painel GMSM (sensibilidade de 65,2% contra 83,5%) na separação entre os 2 grupos.
A disbiose intestinal que se observa nos pacientes com CCR estará, portanto, associada a alterações nos metabolitos séricos. A identificação destes marcadores no soro é muito promissora e permite a deteção precoce e não invasiva de pacientes com adenomas ou CCR.