Aborto: a disbiose vaginal no banco dos réus?
Os abortos sem origem genética parecem estar associados a uma disbiose vaginal e a uma inflamação local. Resultados que poderiam abrir caminho para a prevenção nas mulheres cuja microbiota vaginal é pobre em lactobacilos.
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Sobre este artigo
27% Apenas 27% das mulheres pesquisadas afirmam saber que a microbiota vaginal está equilibrada quando a sua diversidade bacteriana é baixa
Uma em cada cinco gestações termina num aborto precoce (antes das 12 semanas), sendo que metade dos casos são provocados por anomalias cromossomiais (abortos aneuploides). Entre as 12 e as 24 semanas, podem ocorrer abortos euploides tardios, em geral com associados a uma infeção (2 em 3 casos). Embora os mecanismos em jogo continuem a ser mal compreendidos, suspeita-se que a microbiota vaginal está implicada.
Daí surge uma hipótese:
estes abortos euploides tardios poderiam ser causados por sinais inflamatórios ligados à composição da microbiota vaginal?
1/5 Uma em cada cinco gestações termina num aborto precoce
1/2 sendo que metade dos casos são provocados por anomalias cromossomiais
Abortos: uma questão de lactobacilos?
Para responder a esta pergunta, investigadores acompanharam 167 gestações: 74 gestações completas, 54 abortos não genéticos (gestações euploides) e 39 abortos genéticos (gestações aneuploides). A análise das suas microbiotas (ARN 16S) mostrou a existência de 2 tipos de microbiota vaginal: uma primeira dominada por 94,2% de Lactobacillus spp (75% das amostras) e uma segunda (25% das amostras) caracterizada por uma depleção de lactobacilos, com um teor médio de apenas 18,5%.
Entretanto, em comparação com os abortos aneuploides, os abortos euploides estão associados à microbiota vaginal:
- mais rica em bactérias e diversidade
- pobre em Lactobacillus spp.,
- rica em Streptoccus spp. (60% dos casos) e Prevotella spp (40% dos casos).
Microbiota vaginal e inflamação
Em termos de inflamação, independentemente do desfecho da gestação, a pobreza em lactobacilos está relacionada com os altos níveis de citocinas no líquido cervovaginal. Mas sobretudo, os subgrupos dominados pela Prevotella ou pelo Streptococcus spp., apresentavam concentrações significativamente mais elevadas de TNF-α e de certas interleucinas pró-inflamatórias (IL-6, IL-8, IL-1β). É, então possível que o empobrecimento de Lactobacillus spp. esteja associado a um ambiente pró-inflamatório desfavorável ao bom desenvolvimento da gestação. O que estaria de acordo com a frequência mais alta de abortos observada quando a microbiota vaginal é pobre em lactobacilos.
Para além disso, a forte presença de Streptococcus seria o fator de risco mais significativo para abortos euploides e o principal fator responsável pelo aumento de mediadores pró-inflamatórios nestes pacientes.
Uma esperança para as mulheres
Observa-se uma diferença de composição da microbiota vaginal entre as gestações aneuploides e euploides. Parece, então, que a interrupção da gestação baseia-se em diferentes mecanismos: uma falha genética para os primeiros e interações com bactérias da microbiota vaginal e o hospedeiro para os segundos. Consequência direta: a microbiota vaginal poderia representar um alvo de escolha para a prevenção de abortos.