Alergias: o papel da vida in utero
Mesmo antes do nascimento da criança, a sua vida in utero poderá determinar o risco de ela vir a sofrer de alergias. Como? Através de um mecónio menos rico, o qual afetará o desenvolvimento da sua microbiota intestinal e, em última instância, do seu sistema imunitário.
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Sobre este artigo
Se há quem leia o futuro nas borras de café, os investigadores estão a começar a prever o risco de alergias no (sidenote: Mecónio Primeira matéria fecal eliminada por um recém-nascido, contendo o líquido amniótico absorvido no útero. O mecónio ajuda a identificar os microrganismos que revestem o trato gastrointestinal do feto. ) , as primeiras fezes dos bebés semelhantes ao alcatrão. Eczemas, alergias alimentares, asma, rinite alérgica: quase 1 em cada 3 crianças hoje atualmente de alergias. No entanto, muitas coisas poderão acontecer antes mesmo do nascimento. Daí a ideia dos investigadores de estudar o mecónio que começa a formar-se ainda no útero materno, a partir da 16ª semana de gestação.
Fundo alérgico desde a gravidez?
Os seus resultados suportam a ideia de que o estabelecimento da alergia começa muito antes dos seus primeiros sintomas: assim, a partir dos 3 meses, os bebés futuramente com alergias apresentam uma microbiota intestinal menos diversificada e menos madura. Por isso, os investigadores foram estudar o que existe a montante, as primeiras fezes, o famoso mecónio. Constataram no mecónio o mesmo que aos três meses: uma menor diversidade de bactérias presentes, e uma diversidade reduzida nas moléculas produzidas por esses microrganismos.
O aparecimento de uma alergia poderá, portanto, explicar-se pelo seguinte mecanismo: durante a gravidez, fatores ambientais que favorecem a alergia poderão modificar a composição do mecónio, que surge menos rico em metabolitos no nascimento. Como as primeiras bactérias a colonizar o tubo digestivo do bebé se alimentam desses metabolitos, o mecónio menos rico corresponde a uma perda de diversidade e de maturação da microbiota no início da vida.
Prevenir... e prever?
As consequências destas descobertas são múltiplas. Por um lado, os investigadores esperam um dia conseguir prevenir tais alergias. Isso implicará uma melhor compreensão não apenas daquilo que afeta in utero a composição do mecónio, mas também de como os diferentes metabolitos do mecónio influenciam a colonização bacteriana nos recém-nascidos. Por outro lado, esperam ser capazes de vir a prever o risco de alergias, baseando-se na composição do mecónio no recém-nascido. Enquanto se aguarda, só é possível recomendar que as mulheres grávidas adotem um estilo de vida saudável durante a gravidez.