A microbiota intestinal tem uma assinatura específica para a fibromialgia
A microbiota intestinal de doentes com fibromialgia mostra uma assinatura específica, com maior ou menor abundância de 19 espécies bacterianas, quando comparada à de indivíduos saudáveis. O metabolismo de ácidos gordos de cadeia curta pode estar implicado.
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Sobre este artigo
A fibromialgia (FM) é uma das formas mais comuns de dor crónica generalizada, com uma prevalência estimada de 2-4% na população adulta. A FM é caracterizada por dor, cansaço, insónias e sintomas cognitivos. Como não existem critérios de diagnóstico objetivos além destes sintomas, a FM causa uma deterioração da qualidade de vida das pessoas. O aumento do conhecimento das interações entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso central, também conhecido como “eixo entero-cerebral”, sugere que também pode afetar o processamento e perceção da dor. Para compreender melhor a fisiopatologia da FM, comparou-se a microbiota intestinal de 77 mulheres canadianas com FM (com 46 anos e diagnosticadas há 12 anos, em média) com a de 79 indivíduos de controlo (11 familiares em primeiro grau, 20 membros do agregado familiar e 48 sujeitos não relacionados) com base na análise de 16S rRNA e de todo o genoma.
Taxa associada à gravidade da FM
Não foi observada nenhuma diferença entre as doentes com FM e os indivíduos saudáveis, em termos de diversidade e estrutura geral da população microbiana. No entanto, um exame mais pormenorizado mostrou uma associação entre a abundância de vários taxa e a gravidade dos sintomas ligados à FM, incluindo dor intensa, dor localizada, cansaço, insónias e sintomas cognitivos.
Uma assinatura específica
A comparação entre doentes e indivíduos de controlo também revelou uma assinatura específica na microbiota fecal das doentes com FM: 19 espécies foram identificadas – algumas relativamente menos abundantes em doentes com FM, enquanto outras eram mais abundantes. Várias estão envolvidas no metabolismo do butirato e do propionato, dois ácidos gordos de cadeia curta. As concentrações séricas destes ácidos gordos estão alteradas em doentes com FM, que têm níveis elevados de butirato e baixos de propionato. Estes ácidos gordos podem estar envolvidos nos mecanismos que associam a disbiose aos sintomas observados. Finalmente, alguns taxa presentes em doentes com FM também são observados em outras síndromes disfuncionais – síndrome do intestino irritável, síndrome da fadiga crónica, cistite intersticial – enquanto outros parecem ser específicos de FM.
Um algoritmo de identificação?
Além de um melhor conhecimento da FM, ou até de potenciais aplicações terapêuticas, os investigadores abriram o caminho para um possível teste de diagnóstico para doentes com FM. Um algoritmo de (sidenote: Machine Learning Tecnologia de inteligência artificial devida à qual os computadores “aprendam”, somente pelo processamento de um vasto leque de dados. ) baseado apenas na composição da microbiota parece conseguir distinguir doentes com FM de indivíduos de controlo, com uma precisão de 87,8%.