Gonorreia na mulher: existe alguma ligação entre a microbiota vaginal e os sintomas?
Cervicite em algumas mulheres e nenhuns sintomas em outras. Como se explica a enorme variabilidade das manifestações da gonorreia? Talvez pela presença mais ou menos elevada de lactobacilos na microbiota cervicovaginal.
Área para o público geral
Encontre aqui o seu espaço dedicadoen_sources_title
en_sources_text_start en_sources_text_end
Sobre este artigo
27% Apenas 27% das mulheres pesquisadas afirmam saber que a microbiota vaginal está equilibrada quando a sua diversidade bacteriana é baixa
Haverá, todos os anos, cerca de 90 milhões de casos de gonorreia recenseados em todo o mundo. Nas mulheres, a infeção do trato genital inferior por Neisseria gonorrhoeae apresenta consequências muito variadas, desde ausência de sintomas até cervicite. Embora não se saibam os fatores que explicam essa variabilidade, a microbiota cervicovaginal pode incluir-se neles. De facto, uma equipa acaba de demonstrar ser possível prever a forma clínica da gonorreia nas mulheres.
90 milhões Haverá, todos os anos, cerca de 90 milhões de casos de gonorreia recenseados em todo o mundo.
Estudo piloto em 19 mulheres infetadas
Os resultados apresentados pertencem a um pré-estudo americano realizado com 19 pacientes infetadas com N. gonorrhoeae, incluindo 10 sintomáticas e 9 assintomáticas. De notar que, na sua maioria, se tratava de mulheres afro-americanas, uma população que possui com mais frequência microbiotas pobres em lactobacilos em comparação com as mulheres caucasianas. Nessas 19 pacientes, a Neisseria spp. representava apenas 0,24% das bactérias presentes, tanto nas pacientes sintomáticas como nas assintomáticas. Metade das pacientes de cada grupo apresentava também coinfeções, Chlamydia trachomatis e/ou Trichomonas vaginalis.
19 casos em cada 1000 mulheres É a taxa de incidência da gonorreia nas mulheres.
23 casos por 1000 homens Nos homens, essa taxa é de 23 casos por 1000.
Sintomas relacionados com a microbiota
As microbiotas cervicovaginais das pacientes assintomáticas (e sem coinfeções) continham mais frequentemente comunidades microbianas amplamente dominadas por lactobacilos (92,2% das bactérias em média) em comparação com as pacientes sintomáticas sem coinfeção (21,6%). Essa predominância devia-se principalmente à bactéria L.iners.
Por outro lado, as mulheres sintomáticas apresentavam microbiotas ricas em táxons bacterianos mais diversificados e mais heterogéneos. A sua composição constava de uma mistura de bactérias anaeróbicas associadas à vaginose bacteriana (VB): Prevotella, Sneathia, Mycoplasma hominis e Candidatus Lachnocurva vaginae (BVAB1 ou Bacterial Vaginosis-Associated Bacterium-1).
Efeito protetor de uma flora dominada por Lactobacillus?
No entanto, estes resultados não deixam de pertencer apenas a um pré-estudo baseado numa pequena amostra. Eles não permitem afirmar se a composição da microbiota vaginal está associada ao risco ou à proteção contra a infeção por N. gonorrhoeae. Apenas permitem destacar a existência de uma relação entre as comunidades vaginais e a forma clínica nas mulheres com infeção por N. gonorrhoeae diagnosticada. Trata-se, portanto, de uma primeiro etapa que é certamente fundamental, mas são ainda necessários futuros estudos se para avaliar o possível efeito protetor da composição vaginal dominada por Lactobacillus contra infeção por N. gonorrhoeae.