Farmacocinética: papel importante para as bactérias intestinais
A microbiota intestinal parece estar envolvida no metabolismo de um grande número de medicamentos administrados oralmente, tal como demonstrado pelos investigadores americanos com base em marcadores genéticos.
Área para o público geral
Encontre aqui o seu espaço dedicadoen_sources_title
en_sources_text_start en_sources_text_end
Sobre este artigo
O impacto da microbiota intestinal no metabolismo de alguns fármacos já foi comunicado: pode levar à ativação, à desativação ou ao aumento da toxicidade de alguns compostos*. No entanto, o âmbito e os mecanismos deste impacto continuam por estudar. Uma equipa americana abriu o caminho estudando a disposição de 271 medicamentos administrados oralmente - exceto antibióticos - sob o efeito de 76 espécies ou estirpes, principalmente a partir da microbiota intestinal humana.
Bactérias seletivas
Os ensaios primários foram realizados in vitro, através da incubação de drogas e de bactérias durante 12 horas. Dois terços dos medicamentos foram metabolizados a mais de 20 % e por, pelo menos, uma estirpe bacteriana (cada estirpe metaboliza entre 11 e 95 medicamentos). Omeprazol, sulfasalazina, risperidona, ou mesmo lovastatina, estavam entre os fármacos mais visados, confirmando assim resultados anteriores. Além disso, alguns componentes químicos parecem ser os alvos preferidos deste metabolismo bacteriano: por exemplo, os grupos éster ou amida de compostos terapêuticos são o alvo preferido dos Bacteroidetes. No caso específico da dexametasona (um glucocorticosteróide), tentar associar uma espécie bacteriana ao fármaco não foi muito relevante: é necessário identificar os genes diretamente associados à conversão enzimática. De acordo com os autores, a experiência sugere que seria provavelmente o caso de outros glucocorticosteróides (prednisolona, prednisona).
Biotransformações combinadas
A etapa seguinte foi realizada in vivo e consistiu na identificação dos marcadores genéticos das biotransformações bacterianas observadas. Esta abordagem foi inicialmente validada com a bactéria Bacteroides thetaiotaomicron. Foram identificadas 16 outras enzimas derivadas desta bactéria, metabolizando 18 medicamentos em 41 metabolitos. O alargamento deste método às 76 bactérias selecionadas neste estudo demonstrou que a transformação de um medicamento poderia exigir o efeito combinado de enzimas de várias espécies; por exemplo, o tinidazol é metabolizado por três espécies diferentes. No total, a equipa identificou 30 enzimas derivadas da microbiota intestinal que, em conjunto, transformam 20 fármacos em 59 metabolitos diferentes. Isto confirma que a farmacocinética está relacionada com as bactérias intestinais. Mais um passo no sentido de uma abordagem terapêutica adaptada, capaz de antecipar a resposta de um indivíduo a um determinado tratamento com base no seu perfil microbiótico.
*entre outros, ativação da sulfassalazina, desativação da digoxina e aumento da toxicidade do irinotecano