Como é que a microbiota intestinal controla remotamente o timo?
A microbiota intestinal parece controlar remotamente a multiplicação e a maturação de algumas células T no timo, através de metabolitos microbianos. Em contrapartida, as células T parecem ter um impacto na homeostase da barreira intestinal.
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Sobre este artigo
Como é que a microbiota intestinal modula a função imunitária? Esta questão continua sem resposta pela ciência, embora um subconjunto de células T possa estar envolvido, nomeadamente as células MAIT (células T invariantes associadas à mucosa) que participam na homeostase da mucosa intestinal. As células MAIT são células T não convencionais que têm uma função inata, estão localizadas principalmente na mucosa intestinal: incluem um recetor de reconhecimento de padrões invariáveis para metabolitos bacterianos.
Mecanismo proposto
Num artigo publicado na Sciences, uma equipa francesa resumiu os seus vários trabalhos que tendem a mostrar que, em ratinhos, as bactérias intestinais reagem ao desenvolvimento de células MAIT no timo, onde as células T atingem a maturação. O mecanismo proposto, baseado em experiências in vitro e in vivo, é o seguinte: as bactérias intestinais secretam um metabolito da via biossintética da vitamina B2, chamado 5-OP RU. O 5-OP RU atravessa rapidamente a mucosa intestinal e viaja até ao timo onde é reconhecido pelos recetores das células MAIT imaturas. Este reconhecimento pode induzir a multiplicação e a maturação dos precursores das células MAIT. As células MAIT maduras abandonam então o timo e alcançam as mucosas, especialmente a mucosa intestinal, onde podem reforçar a barreira epitelial, restringir o desenvolvimento de populações bacterianas e participar na defesa contra patógenos. De registar que o 5-OP-RU pode não ser o único metabolito bacteriano envolvido: os investigadores suspeitam que outros mediadores induzidos pela microbiota intestinal também tenham um papel na multiplicação e no controlo das células MAIT.
A microbiota: uma parte integrante do próprio sistema imunitário?
Ao propor um mecanismo que explique como a microbiota intestinal pode influenciar remotamente os órgãos do hospedeiro, esta publicação também participa na descodificação do diálogo complexo que emerge entre a microbiota e o sistema imunitário, especialmente entre a microbiota intestinal e o timo, visto como o sítio onde se faz a distinção entre o que é do próprio (através da supressão de linfócitos capazes de reconhecer o próprio, evitando assim doenças auto-imunes) e o que é externo (seleção positiva dos linfócitos que reconhecem compostos externos). No entanto, de acordo com o mecanismo proposto, a maturação das células MAIT dentro do timo tem a característica distintiva de ser baseada em metabolitos da microbiota. Isto sugere que a microbiota intestinal pode ser uma parte integrante do sistema imunitário.