Cancro do pâncreas: fluido duodenal, um retrato do risco?
A microbiota do fluido duodenal dos pacientes com adenocarcinoma ductal do pâncreas, um cancro muito agressivo, poderá refletir o grau de risco tumoral dos pacientes. Este facto permite prever uma deteção mais precoce deste tipo de cancro.
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Sobre este artigo
Terceira causa de morte por cancro nos Estados Unidos, com uma taxa de sobrevivência de 9% a 5 anos, o adenocarcinoma ductal do pâncreas (ADP)é um dos cancros mais temíveis. Estudos anteriores demonstraram que a microbiota tumoral dos pacientes de ADP contém bactérias normalmente presentes no trato gastrointestinal superior, as quais terão, portanto, migrado a partir do duodeno. Se isto se confirmar, o fluido duodenal poderá funcionar como uma interessante amostra biológica para a caraterização dos perfis microbianos dos pacientes com ou em risco de ADP. Hipótese que justifica este estudo caso-controlo monocêntrico destinado a comparar os perfis bacterianos e fúngicos do fluido duodenal de doentes submetidos a endoscopia: 134 controlos com o pâncreas normal, 98 pacientes com quisto(s) pancreático(s) e 74 pacientes com ADP.
Disbiose nos pacientes com ADP
Nos pacientes com ADP, os níveis de ADN bacteriano e fúngico no fluido duodenal surgiram mais elevados que nos controlos, mesmo após a correção em função da idade, do tabagismo e da utilização de (sidenote: Inibidores da bomba de protões ) . Além disso, a sua diversidade microbiana mostrou-se reduzida, com reforço do género Bifidobacterium. As bactérias Fusobacterium, Rothia e Neisseria tinham maior presença nos pacientes com ADP cuja sobrevivência se revelou mais curta.
O efeito dos IBPs não pode ser negligenciado: nos controlos, a utilização regular de IBPs correspondia a uma redução da diversidade da microbiota. Estes tratamentos surgiram também ligados a um aumento de bactérias predominantemente orais, como estreptococos eFusobacterium, tendo este género sido associado a vários cancros, entre eles o ADP.
Alteração da micobiota
Nos pacientes com quisto(s) pancreático(s), os perfis bacterianos do fluido duodenal não se revelaram significativamente diferentes dos apresentados pelos controlos. No entanto, a micobiota diferia: mais ascomicetos e menos basidiomicetos e Malassezia. Os pacientes com ADP apresentaram, por sua vez, uma menor abundância de Saccharomyces que os pacientes com lesões quísticas pancreáticas.
Estratificar o risco de cancro?
Assim, os estudo transmite a ideia da existência de diferenças entre as microbiotas bacterianas e fúngicas do fluido duodenal consoante os grupos de pacientes (diagnosticados com cancro do pâncreas, com quistos no pâncreas ou com pâncreas normal). Estas disbioses caraterísticas permitem antever a possibilidade de se definirem perfis, no sentido de se conseguir uma melhor estratificação do risco de cancro do pâncreas em pacientes sob monitorização de complicações pancreáticas. Contudo, serão necessários outros estudos, mais abrangentes e incluindo outras populações e regiões, antes de se chegar a conclusões definitivas.