Autismo: um novo protocolo de transplante de microbiota fecal apresenta resultados promissores
Um protocolo intensivo combinado baseado num transplante de microbiota fecal demonstrou uma redução significativa a longo prazo nos distúrbios gastrointestinais e comportamentais de crianças autistas. Estes resultados encorajadores ainda não foram confirmados.
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Sobre este artigo
A disbiose do intestino e os distúrbios gastrointestinais são frequentemente observados em crianças com perturbações do espetro do autismo (PEA). É por isso que investigadores Americanos já tinham levado a cabo um protocolo de tratamento baseado no transplante de microbiota fecal (TMF) em 18 crianças autistas entre os 7 e os 17 anos. Num novo estudo, relatam alterações nos sintomas dos participantes dois anos depois do primeiro estudo.
Protocolo intensivo, resultados duradouros
O protocolo, denominado “Tratamento de Transferência Microbiana” (TTM), incluiu um tratamento de duas semanas com vancomicina, um enema, dois dias de TMF, seguido de 7 a 8 semanas de TMF combinado com supressão do ácido gástrico com omeprazole. Depois deste estudo de inicial de 18 semanas, os sintomas gastrointestinais melhoraram 80 % e os sintomas do autismo diminuíram ligeiramente (dificuldades de comunicação, comportamentos repetitivos...). Estes resultados positivos mantiveram-se por dois anos: os sintomas gastrointestinais foram 58 % inferiores comparados com o início do estudo. A gravidade da doença foi medida por um profissional e diminuiu acentuadamente: das 83 % das crianças consideradas “gravemente autistas” no início do estudo, dois anos depois 17 % foram consideradas como grave, 39 % no intervalo ligeiro a moderado, e 44 % dos participantes ficaram abaixo dos níveis de cut-off para PEA.
Implantação de uma microbiota mais saudável
A analise das fezes de 16 dos 18 participantes mostrou também que, na maioria das crianças, a diversidade bacteriana era mais elevada passados dois anos do que no fim das 18 semanas do estudo inicial, demonstrando assim que o protocolo levou ao desenvolvimento de um meio microbiano mais saudável, favorável à melhoria dos sintomas gastrointestinais e comportamentais. Mais precisamente, a quantidade relativa das Bifidobacteria e Prevotella foi multiplicada por 5 e por 84, respetivamente. Esta foi uma descoberta significativa, dado que a Prevotella (frequentemente ausente em pessoas com autismo) é um género de bactérias que produz butirato, um ácido gordo de cadeia curta favorável à mucosa intestinal. Contudo, deve adotar-se uma abordagem cautelosa: os investigadores indicaram que durante o período de acompanhamento de dois anos, 12 das 18 crianças tiveram alterações na sua medicação, na dieta ou nos suplementos alimentares e que o efeito do omeprazole pode explicar por si a melhoria dos sintomas relacionados com a acidez gástrica. É necessário um ensaio aleatorizado duplo-cego com uma coorte superior para validar a esperança que este novo protocolo.