Autismo: variação da microbiota intestinal e gravidade das perturbações, há relação?
Um estudo americano avaliou, pela primeira vez, as alterações comportamentais nas crianças com perturbações do espectro autístico (PEA) em conexão com a composição da microbiota intestinal ao longo do tempo.
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Sobre este artigo
A observação de disbiose intestinal e de afeções gastrointestinais é frequente em crianças com perturbações do espectro autístico (PEA). Paralelamente, surgem cada vez mais evidências científicas do papel da microbiota intestinal na modulação da sinalização cerebral, aquilo a que vulgarmente se chama o eixo intestino-cérebro. No entanto, os trabalhos de investigação sobre a relação entre a composição microbiana e as PEA têm produzido conclusões contraditórias, o que destaca a complexidade da patologia e da aplicação de um protocolo de estudo mais sofisticado. Foi com este objetivo que investigadores norte-americanos:
- compararam a composição da microbiota intestinal de jovens pacientes com PEA face à de um grupo de controlo do Arizona e do Colorado, no sentido de perceberem se a diferença de localização geográfica poderá afetar a microbiota intestinal.
- realizaram um (sidenote: Os controlos provenientes do Arizona não participaram no estudo longitudinal. ) para avaliar as relações entre os sintomas gastrointestinais, a alimentação, a composição da microbiota intestinal e a gravidade dos sintomas comportamentais.
Impacto da localização geográfica na microbiota
Os investigadores demonstraram que a composição da microbiota intestinal diferia entre os pacientes do Arizona e os do Colorado: as crianças do Arizona apresentavam maior diversidade do que as do Colorado. Foi uma surpresa para eles, uma vez que tinham usado os mesmos métodos de colheita de fezes, extração de ADN e sequenciação. Mediante reanálise cruzada de amostras do Colorado no Arizona, concluíram e confirmaram que o local da extração de ADN não tinha influência na diversidade microbiana. Os investigadores descobriram também que os sintomas gastrointestinais eram mais importantes nos pacientes com PEA em comparação com controlos do Arizona, mas não com os do Colorado. Para os autores, isto confirma a importância da localização do local de estudo na composição da microbiota intestinal, e demonstra que estas diferenças nos sintomas gastrintestinais nas PEA podem contribuir para os resultados inconsistentes publicados na literatura.
Deterioração da linguagem relacionado com a diversidade da microbiota
A análise longitudinal revelou uma associação entre o aumento da gravidade dos distúrbios comportamentais e as modulações da microbiota intestinal. Nomeadamente, a diminuição da diversidade da microbiota intestinal ao longo do tempo surgiu relacionada com um aumento da severidade das alterações comportamentais: agravamento dos problemas de linguagem, letargia, isolamento social das pessoas com PEA, etc.. Em contrapartida, os investigadores não detetaram qualquer ligação significativa entre os comportamentos associados com as PEA e os sintomas gastrointestinais ou a alimentação. Para os autores, são necessários mais estudos multicêntricos e longitudinais complementares, com mais participantes, no sentido de se caraterizar a relação entre as PEA e a microbiota intestinal.