Um menor risco de diabetes em caso de microbiota diversificada?

Um novo estudo que agrupou mais de 2.000 indivíduos mostrou que a diversidade da microbiota intestinal e a abundância de 12 táxons produtores de butirato estão associados a um menor risco de diabetes do tipo 2 e resistência à insulina.

Publicado em 13 Dezembro 2021
Atualizado em 24 Julho 2024

Sobre este artigo

Publicado em 13 Dezembro 2021
Atualizado em 24 Julho 2024

Embora os estudos já tenham relatado associações entre a microbiota intestinal e a diabetes do tipo 2 (DT2), apenas envolveram amostras limitadas e os táxons envolvidos ainda estão sujeitos a debate (resultados nem sempre reproduzidos, falta de potência, etc.). Foi por isso que os pesquisadores realizaram um estudo amplo, reunindo 2.166 indivíduos oriundos de 2 coortes holandesas, sobre as associações entre a composição da microbiota intestinal - analisada por amplificação e sequenciação da bactéria ARN 16s presente nas fezes - e a DT2 - casos identificados por 2 médicos a partir dos critérios da OMS (glicemia, ingestão de medicamentos antidiabetes..).

Embora transversais (ou seja, dados sobre a microbiota e a DT2 recolhidos ao mesmo tempo) as análises foram ajustadas a muitos fatores de confusão: ingestão energética, índice de massa corporal, nível de educação... Outro aspeto forte e inovador do estudo: medir as associações entre a microbiota e a resistência à insulina (IR), estabelecida a partir da glicose no sangue e dos níveis de insulina em jejum, um marcador subclínico que indica uma fase inicial da patogénese da DT2.

A diversidade da microbiota, fator protetor?

Vários índices que medem a (sidenote: Diversidade α Uma medida que indica a diversidade de uma única amostra, ou seja, o número de diferentes espécies presentes num indivíduo. Hamady M, Lozupone C, Knight R. Fast UniFrac: facilitating high-throughput phylogenetic analyses of microbial communities including analysis of pyrosequencing and PhyloChip data. ISME J. 2010;4:17-27. https://www.nature.com/articles/ismej200997 ) da microbiota estavam associados a uma IR menor além de uma prevalência reduzida da DT2. A (sidenote: diversidade β Uma medida que indica a diversidade de espécies entre amostras, permite avaliar a variabilidade da diversidade de microbiota entre sujeitos. Hamady M, Lozupone C, Knight R. Fast UniFrac: facilitating high-throughput phylogenetic analyses of microbial communities including analysis of pyrosequencing and PhyloChip data. ISME J. 2010;4:17-27. https://www.nature.com/articles/ismej20099 ) foi associada à IR. Finalmente, a abundância de 7 táxons- pertencem às famílias das Christensenellaceae e das Ruminococcaceae ou ao género Marvinbryantia – foi associada a um risco reduzido de IR e à abundância de 5 outros táxons – famílias das Clostridiaceae, Peptostreptococcaceae, ou gêneros Clostridium sensu stricto, Intestinibacter e Romboutsia – a um menor risco de DT2.

Táxos produtores de butirato que reduzem os riscos de DT2

Estes 12 táxons, dos quais 10 estão associados, pela primeira vez a um risco reduzidos de DT2 ou IR são conhecidos por produzir butirato, um ácido gordo de cadeia curta proveniente da degradação das fibras alimentares pelas bactérias. O aumento da atividade mitocondrial, a melhoria do metabolismo energético, a redução da endotoxemia e da inflamação são mecanismos avançados para explicar os seus efeitos. Entretanto, o seu papel no metabolismo da glicose e na prevenção da diabetes ainda não foi validado por estudos ad hoc.

Desta forma, as associações destacadas entre, por um lado, a diversidade da microbiota e a abundância de bactérias produtoras de butirato e, por outro lado, riscos mais fracos de IR e de DT2 trazem uma nova luz no estudo da etiologia, da patogénese e do tratamento da DT2.