Um menor risco de diabetes em caso de microbiota diversificada?
Um novo estudo que agrupou mais de 2.000 indivíduos mostrou que a diversidade da microbiota intestinal e a abundância de 12 táxons produtores de butirato estão associados a um menor risco de diabetes do tipo 2 e resistência à insulina.
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Sobre este artigo
Embora os estudos já tenham relatado associações entre a microbiota intestinal e a diabetes do tipo 2 (DT2), apenas envolveram amostras limitadas e os táxons envolvidos ainda estão sujeitos a debate (resultados nem sempre reproduzidos, falta de potência, etc.). Foi por isso que os pesquisadores realizaram um estudo amplo, reunindo 2.166 indivíduos oriundos de 2 coortes holandesas, sobre as associações entre a composição da microbiota intestinal - analisada por amplificação e sequenciação da bactéria ARN 16s presente nas fezes - e a DT2 - casos identificados por 2 médicos a partir dos critérios da OMS (glicemia, ingestão de medicamentos antidiabetes..).
Embora transversais (ou seja, dados sobre a microbiota e a DT2 recolhidos ao mesmo tempo) as análises foram ajustadas a muitos fatores de confusão: ingestão energética, índice de massa corporal, nível de educação... Outro aspeto forte e inovador do estudo: medir as associações entre a microbiota e a resistência à insulina (IR), estabelecida a partir da glicose no sangue e dos níveis de insulina em jejum, um marcador subclínico que indica uma fase inicial da patogénese da DT2.
A diversidade da microbiota, fator protetor?
Vários índices que medem a (sidenote: Diversidade α Uma medida que indica a diversidade de uma única amostra, ou seja, o número de diferentes espécies presentes num indivíduo. Hamady M, Lozupone C, Knight R. Fast UniFrac: facilitating high-throughput phylogenetic analyses of microbial communities including analysis of pyrosequencing and PhyloChip data. ISME J. 2010;4:17-27. https://www.nature.com/articles/ismej200997 ) da microbiota estavam associados a uma IR menor além de uma prevalência reduzida da DT2. A (sidenote: diversidade β Uma medida que indica a diversidade de espécies entre amostras, permite avaliar a variabilidade da diversidade de microbiota entre sujeitos. Hamady M, Lozupone C, Knight R. Fast UniFrac: facilitating high-throughput phylogenetic analyses of microbial communities including analysis of pyrosequencing and PhyloChip data. ISME J. 2010;4:17-27. https://www.nature.com/articles/ismej20099 ) foi associada à IR. Finalmente, a abundância de 7 táxons- pertencem às famílias das Christensenellaceae e das Ruminococcaceae ou ao género Marvinbryantia – foi associada a um risco reduzido de IR e à abundância de 5 outros táxons – famílias das Clostridiaceae, Peptostreptococcaceae, ou gêneros Clostridium sensu stricto, Intestinibacter e Romboutsia – a um menor risco de DT2.
Táxos produtores de butirato que reduzem os riscos de DT2
Estes 12 táxons, dos quais 10 estão associados, pela primeira vez a um risco reduzidos de DT2 ou IR são conhecidos por produzir butirato, um ácido gordo de cadeia curta proveniente da degradação das fibras alimentares pelas bactérias. O aumento da atividade mitocondrial, a melhoria do metabolismo energético, a redução da endotoxemia e da inflamação são mecanismos avançados para explicar os seus efeitos. Entretanto, o seu papel no metabolismo da glicose e na prevenção da diabetes ainda não foi validado por estudos ad hoc.
Desta forma, as associações destacadas entre, por um lado, a diversidade da microbiota e a abundância de bactérias produtoras de butirato e, por outro lado, riscos mais fracos de IR e de DT2 trazem uma nova luz no estudo da etiologia, da patogénese e do tratamento da DT2.