Pr. Elens (Bélgica vencedora de 2020): Microbioma intestinal e farmacoterapia imunossupressora
Para comemorar o Dia Mundial da Microbiota (#WorldMicrobiomeDay), o Biocodex Microbiota Institute passa a palavra aos beneficiários de Bolsas nacionais.
Área para o público geral
Encontre aqui o seu espaço dedicadoen_sources_title
en_sources_text_start en_sources_text_end
Capítulos
Sobre este artigo
Pr. Elens Laure
Professora do Instituto de Investigação de Medicamentos de Lovaina, Departamento de farmacogenómica, farmacocinética e farmacometria integrada da Universidade Católica de Lovaina, Bruxelas, Bélgica.
A Prof. Laure Elens é investigadora biomédica e investiga a importância dos fatores do hospedeiro, entre os quais a microbiota intestinal, para explicar a variação na farmacocinética dos medicamentos através de pesquisas experimentais, estudos de associação do genoma completo e modelação farmacométrica.
O que é que a bolsa nacional permitiu descobrir na sua área de investigação da microbiota?
A Bolsa permitiu-nos investigar a relação entre a composição da microbiota intestinal humana e alguns marcadores farmacocinéticos (PK) do ácido micofenólico (MPA), um medicamento imunossupressor amplamente utilizado no transplante de órgãos sólidos, numa coorte de 100 pacientes com transplante renal e estáveis. Uma primeira análise de triagem ao nível de género revelou que 7 táxons se encontravam significativamente correlacionados com a exposição ao medicamento, conforme caracterizado pela área sob a curva de concentração (AUC) de MPA. De entre esses 7 géneros, 4 apresentaram diferenças consistentes no grupo de baixa exposição quando comparados com os grupos de média e elevada exposição, diferenças essas que permaneceram significativas ao se corrigir a taxa de descobertas falsas (FDR). Esta relação entre a exposição ao MPA e a composição da microbiota evidencia uma interação potencial. Sugere que o MPA exerce impacto na composição da flora ou, inversamente, que a microbiota intestinal afeta a reciclagem entero-hepática do fármaco, ou ainda, muito provavelmente, uma combinação entre ambos.
Quais são as consequências para os pacientes?
A necessidade de controlar a imunossupressão é fundamental nos pacientes transplantados para se evitar exposições inadequadas que possam levar a respostas inapropriadas ao medicamento, ou seja, à rejeição do transplante ou a reações adversas ao medicamento. Enquanto medicação crónica, identificar e compreender os fatores que afetam a farmacocinética imunossupressora é fundamental para se dominar os desvios imprevistos do controlo terapêutico. O nosso estudo constitui um primeiro passo para a demonstração de que a microbiota pode contribuir para as anormalidades inexplicáveis relatadas ao nível clínico, e poderá ainda ajudar os médicos a anteciparem qualquer desvio potencial dos parâmetros farmacocinéticos, facilitando a gestão clínica.
Do seu ponto de vista, qual foi o maior avanço dos últimos anos relacionado com a microbiota?
A importância da microbiota intestinal na saúde, doença e farmacoterapia metabólica humana, e também o facto de ela poder produzir neurotransmissores. Isto faz-me pensar que, de certa forma, ela tem a capacidade de nos controlar (e, a título de exemplo, à resposta que estou a dar à vossa pergunta 😊).
Pensa que existe recentemente um interesse crescente pela microbiota?
Sem dúvida
Tem alguma sugestão para cuidarmos da nossa microbiota?
Evitar os antibióticos e os alimentos processados tanto quanto possível
Qual é, para si, a bactéria mais fascinante?
Acho qualquer bactéria maravilhosa à sua maneira, mas se tiver de escolher uma: Penicillium notatum, porque todos sabemos as consequências que teve para a microbiologia através da descoberta da penicilina por Sir A. Fleming