Pr. Elens (Bélgica vencedora de 2020): Microbioma intestinal e farmacoterapia imunossupressora

Para comemorar o Dia Mundial da Microbiota (#WorldMicrobiomeDay), o Biocodex Microbiota Institute passa a palavra aos beneficiários de Bolsas nacionais.

Publicado em 17 Junho 2022
Atualizado em 13 Julho 2022

Sobre este artigo

Publicado em 17 Junho 2022
Atualizado em 13 Julho 2022

Pr. Elens Laure

Professora do Instituto de Investigação de Medicamentos de Lovaina, Departamento de farmacogenómica, farmacocinética e farmacometria integrada da Universidade Católica de Lovaina, Bruxelas, Bélgica.


A Prof. Laure Elens é investigadora biomédica e investiga a importância dos fatores do hospedeiro, entre os quais a microbiota intestinal, para explicar a variação na farmacocinética dos medicamentos através de pesquisas experimentais,  estudos de associação do genoma completo e modelação farmacométrica.  

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O que é que a bolsa nacional permitiu descobrir na sua área de investigação da microbiota?

A Bolsa permitiu-nos investigar a relação entre a composição da microbiota intestinal humana e alguns marcadores farmacocinéticos (PK) do ácido micofenólico (MPA), um medicamento imunossupressor amplamente utilizado no transplante de órgãos sólidos, numa coorte de 100 pacientes com transplante renal e estáveis. Uma primeira análise de triagem ao nível de género revelou que 7 táxons se encontravam significativamente correlacionados com a exposição ao medicamento, conforme caracterizado pela área sob a curva de concentração (AUC) de MPA. De entre esses 7 géneros, 4 apresentaram diferenças consistentes no grupo de baixa exposição quando comparados com os grupos de média e elevada exposição, diferenças essas que permaneceram significativas ao se corrigir a taxa de descobertas falsas (FDR). Esta relação entre a exposição ao MPA e a composição da microbiota evidencia uma interação potencial. Sugere que o MPA exerce impacto na composição da flora ou, inversamente, que a microbiota intestinal afeta a reciclagem entero-hepática do fármaco, ou ainda, muito provavelmente, uma combinação entre ambos. 

 

Quais são as consequências para os pacientes? 

A necessidade de controlar a imunossupressão é fundamental nos pacientes transplantados para se evitar exposições inadequadas que possam levar a respostas inapropriadas ao medicamento, ou seja, à rejeição do transplante ou a reações adversas ao medicamento. Enquanto medicação crónica, identificar e compreender os fatores que afetam a farmacocinética imunossupressora é fundamental para se dominar os desvios imprevistos do controlo terapêutico. O nosso estudo constitui um primeiro passo para a demonstração de que a microbiota pode contribuir para as anormalidades inexplicáveis relatadas ao nível clínico, e poderá ainda ajudar  os médicos a anteciparem qualquer desvio potencial dos parâmetros farmacocinéticos, facilitando a gestão clínica.

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Do seu ponto de vista, qual foi o maior avanço dos últimos anos relacionado com a microbiota? 

       A importância da microbiota intestinal na saúde, doença e farmacoterapia metabólica humana, e também o facto de ela poder produzir neurotransmissores. Isto faz-me pensar que, de certa forma, ela tem a capacidade de nos controlar (e, a título de exemplo, à resposta que estou a dar à vossa pergunta 😊).

 

Pensa que existe recentemente um interesse crescente pela microbiota?

       Sem dúvida 

 

Tem alguma sugestão para cuidarmos da nossa microbiota?

       Evitar os antibióticos e os alimentos processados tanto quanto possível

 

Qual é, para si, a bactéria mais fascinante? 


       Acho qualquer bactéria maravilhosa à sua maneira, mas se tiver de escolher uma:  Penicillium notatum, porque todos sabemos as consequências que teve para a microbiologia através da descoberta da penicilina por Sir A. Fleming 

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